Número de brasileiros na China dobrou em 2005 (por Silvia Salek)

O número de brasileiros registrados nas três representações do Brasil na China praticamente dobrou em 2005, passando de 779 para 1.522 de janeiro a dezembro.
O aumento – que serve apenas de termômetro do verdadeiro total, já que muitos não se registram – mostra que o mercado de trabalho chinês tem atraído cada vez mais brasileiros, transformando o país em uma nova fronteira para profissionais em busca de emprego no exterior.
São pilotos de avião, engenheiros, arquitetos, modelos, cozinheiros, profissionais da área de turismo, além de uma série de outros que fazem parte de um grupo de cerca de 230 mil estrangeiros que vivem na China atualmente.
No consulado de Xangai, que atende à região de maior atividade econômica do país, o aumento foi ainda maior do que o verificado em toda a China.
O total de brasileiros registrados mais do que triplicou, passando de 300 brasileiros para 950 em apenas um ano.
"A maioria já chega com um emprego garantido. Há também estudantes de mandarim que encontram emprego ou estágio depois de terem concluído os estudos", explicou Fernanda de Castro Ferret, que trabalha no consulado.
Apesar de concentrados na região mais rica da China, há brasileiros por toda a parte.
O arquiteto carioca Léo Castello, de 26 anos, por exemplo, mora em Nanquim, capital da província de Jiansu, no leste do país.
Léo Castello na apresentação de um de seus projetos
Ele se mudou para lá em julho, quando conseguiu emprego como arquiteto em um escritório chinês depois de enviar seu portfólio para algumas empresas pela internet.
Dos 8 empregados no departamento de criação da empresa – especializada em projetos de paisagismo e urbanismo – cinco são estrangeiros, que trabalham acompanhados de uma tradutora em tempo integral.
"Eles contratam estrangeiros em busca de um olhar diferente, mais criativo", analisou o arquiteto que já havia trabalhado na Espanha.
Em busca desse olhar estrangeiro, as empresas pagam salários mais altos para os profissionais que vêm de fora.
"Ganho três vezes mais do que ganhava no Brasil e bem mais do que os meus colegas chineses. Há excesso de mão-de-obra chinesa, e isso achata os salários por aqui", contou o arquiteto.
Precisa-se de pilotos
Já no setor da aviação, a explicação para a busca por estrangeiros é diferente.
Enquanto o país desponta como um dos principais compradores de aviões do mundo, não há pilotos formados para comandar a crescente frota.
Nas contas do setor, a China vai precisar de cerca de 10 mil pilotos nos próximos 15 anos.
Parte desse total, terá que vir do exterior, e o Brasil – onde o fechamento da Vasp e da Transbrasil gerou um excedente de mão-de-obra – é um dos países na mira das companhias aéreas.
Bill Zheng é diretor da Huaxun Technology Company, empresa especializada no recrutamento e treinamento de pilotos para companhias chinesas.
"O piloto brasileiro se adapta bem à nossa cultura. A demanda por brasileiros só tende a crescer", disse.
A Shenzhen Airlines, para qual ele presta serviços, tem 22 brasileiros em seus quadros e está, no momento, com vagas abertas para estrangeiros. O salário mensal fica em torno de US$ 7,5 mil.
Calçados
O fenômeno da imigração brasileira para a China começou no início da década de 90 com a necessidade de mão-de-obra especializada para trabalhar no setor calçadista.
A indústria chinesa se transformava na maior força exportadora do mundo, enquanto a brasileira perdia espaço no mercado interno e internacional.
Sidney Vargas, 33 anos, viveu na China de 1996 a 1997, onde trabalhou como técnico em couro. Hoje, é dono de uma consultoria comercial que trabalha com vários países, inclusive a China.
"Os salários oferecidos na China para brasileiros nesse setor caíram um pouco, mas o país continua sendo uma saída interessante para muitos profissionais. Estimamos que cerca de cinco mil brasileiros trabalhem hoje no setor de couros e calçados na China", disse.
Essas e outras ofertas de emprego não surgem apenas em empresas chinesas. Em muitos casos, multinacionais ou mesmo empresas brasileiras buscam profissionais no Brasil.
Rafael de Castro Vicente, 26 anos, foi convidado para trabalhar na alemã Bosch, pouco antes de concluir a faculdade de Mecatrônica, uma área que integra mecânica, eletrônica e tecnologia da informação.
Rafael (quarto da direita para a esquerda) com colegas de trabalho
Ele vive há cinco meses em Wuxi, no leste do país, uma das regiões pioneiras no desenvolvimento industrial chinês.
"No começo foi difícil. Hoje, estou bem adaptado. Só não me acostumo à comida, que é sempre uma supresa, além de ser muito apimentada e gordurosa", disse Rafael.
Se morasse em Pequim, Rafael poderia conferir o cardápio premiado do restaurante Alameda, aberto por duas brasileiras: Gabriela Alves e Viviane Gonçalves.
Em funcionamento há menos de um ano, o restaurante já recebeu vários prêmios e foi considerado pela principal revista dedicada ao público estrangeiro como o melhor restaurante internacional da capital.
"Conseguimos isso tudo antes mesmo de completar um ano aqui. Nossos clientes são, principalmente, estrangeiros que vivem em Pequim, mas há também um número crescente de chineses que querem descobrir comidas diferentes", contou Gabriela Alves.
Essa busca pelo diferente na China abre espaço também para a beleza brasileira.
"A China é um mercado em ascenção, e o biotipo brasileiro agrada muito aos chineses", disse agente internacional da Elite, Bettina Meinkohn.
Um desses brasileiros é o modelo Ricardo Soares, de 22 anos, que está na China há dois meses.
"A gente adquire uma ótima experiência aqui, profissional e de vida", disse Ricardo que trancou a faculdade de Desenho Industrial em São Paulo para viver essa experiência na China.
"O chinês é muito profissional, sério com horários e correto com os pagamentos. São muito amáveis, mas, quando a hora do trabalho termina, cada um vai para o seu lado, não tem muita conversa", acrescentou.
(BBCBrasil.com)

0 comentários:

Postar um comentário

 
©2009 Sotaque Brasil | by TNB