Brasileiros temem perder fazendas na Bolívia

O governo da Bolívia quer tomar as terras dos estrangeiros que vivem na região de fronteira. Entre eles, cerca de 500 famílias brasileiras podem perder as propriedades.
A Bolívia tem divisa com quatro estados brasileiros. A faixa de fronteira onde os estrangeiros não podem possuir terras tem uma largura de 50 quilômetros.
A proibição da posse da terra para os estrangeiros nessas áreas é antiga e agora o governo Evo Morales resolveu aplicar a lei.
O Sr. Beto Pagliuca Filho é um brasileiro que tem fazenda nessa área. A propriedade tem 3.700 hectares.
A fazenda foi comprada em fevereiro deste ano. Em poucos meses, passou por uma transformação. Foram abertas estradas e áreas para pasto e agricultura.
"Vou fazer um confinamento de boi. Plantar cana e milho para fazer o silo para engordar o boi", afirma o filho do fazendeiro, Beto Pagliuca Filho. O Sr. Beto é paulista e veio para Mato Grosso na década de 70. No país vizinho, já construiu casa e as obras não param.
Ele mantém os investimentos na fazenda porque acredita que encontrou um jeito de não ser expulso pelo governo boliviano. As terras continuam no nome do prefeito de San Matias. "Até agora eu não passei o documento para o meu nome, não tem como passar continua no nome do prefeito. Eu comprei a terra, paguei e continua no nome dele. Não tem como passar para o meu nome. A não ser que eu tenho um filho".
Já o Sr. Aurélio Mendes fez diferente. O antigo peão virou fazendeiro e está tranquilo porque se casou com uma boliviana. "Eu tenho bastante boi, a família da minha mulher, o pai a mãe dela. A gente tem esse apoio por causa disso", diz o fazendeiro Aurélio Mendes.
O que desperta o interesse dos brasileiros pelas terras bolivianas é o preço. Uma fazenda fica na fronteira. O hectare não passa de R$ 140 reais, já do outro lado da cerca, em Mato Grosso, mesmo a área não sendo muito valorizada, o hectare já custa 20 vezes mais.
A maioria dos brasileiros ameaçados de perder a terra não quer aparecer. O medo é de uma reação do governo boliviano. Nós conversamos em Cuiabá com o Cônsul da Bolívia, Victor Manuel Cuba Akiyama.
O Cônsul disse que a constituição boliviana permite a retomada das terras e a expulsão dos brasileiros, mas que isso depende do relatório de cada município. A questão é analisada com muito cuidado pelas autoridades bolivianas.
Em Brasília, o governo anunciou as primeiras medidas para resolver a situação. No Itamaraty, a informação é que começou nesta quinta-feira um levantamento das famílias de brasileiros que moram na faixa de fronteira, dentro do território boliviano. O objetivo é ver quem quer ficar naquele país e quem pretende voltar para o Brasil.
O levantamento está sendo feito por funcionários do Ministério das Relações Exteriores, do Incra e da Organização Internacional para Imigração. Quem quiser ficar na Bolívia será reassentado fora da faixa de fronteira. Quem quiser voltar para o Brasil, terá prioridade no programa de reforma agrária.
Segundo a área consular do Itamaraty, a questão tem sido tratada pelo governo brasileiro como prioridade. A Polícia Federal, a Receita Federal, o Ibama e o Ministério da Agricultura tem trabalhado juntos também para facilitar a transferência dos brasileiros que quiserem voltar para cá.
Além de agricultores, há brasileiros na área de fronteira da Bolívia que trabalham na extração da borracha. O Itamaraty espera concluir o cadastramento das famílias até o próximo dia 23 de novembro.

Fonte: http://video.globo.com/Videos/Player/0,,GIM1155452-7759-BRASILEIROS+TEMEM+PERDER+FAZENDAS+NA+BOLIVIA,00.html

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