Brasileiros imigram para a China em busca de trabalho

Depois de receber imigrantes chineses por quase dois séculos, o Brasil está agora exportando mão-de-obra para a China.

Ao longo dos últimos cinco anos, mais de mil brasileiros imigraram para o Império do Meio em busca de melhores oportunidades de trabalho.

Em cidades como Guangzhou, Nanhai e Dongguan, no sul da China, há mais de 400 brasileiros trabalhando em fábricas de sapato, de cerâmica e em curtumes.

O gaúcho Renato Morbach, 52 anos, é um deles. Ele saiu de Novo Hamburgo, em 1995, atraído por uma oferta de trabalho na Mimosa Leathers, uma empresa da Malásia que fica na cidade de Guangzhou, antiga Cantão.

"Toque brasileiro"

O slogan da Mimosa Leathers é "Feito na China com um toque brasileiro".

É que, além de Renato, que é gerente geral do curtume, outros 17 brasileiros trabalham para a empresa, especializada no processamento de couros.

Renato já está na China há oito anos

O setor calçadista da China, o maior do mundo, também está importando cada vez mais mão-de-obra brasileira.

Em uma só empresa, que fica ao sul de Xangai e produz sapatos para o grupo americano Nine West, há cerca de cem brasileiros atualmente.

São os chineses se especializando em um nicho que vinha sendo explorado com sucesso pelos fabricantes brasileiros: o mercado de sapatos femininos.

Ouro ao bandido

"Anos atrás, o Brasil exportava sapatos de mais baixa qualidade, mas a China veio e roubou esse mercado", disse Raimo Fischer, que exporta solas de couro para a China.

"O Brasil resolveu, então, se dedicar à produção de sapatos femininos de um nível mais alto para fugir da concorrência chinesa. A surpresa agora é que eles estão rapidamente entrando nesse mercado", completou.

"De certa forma, ao levar a técnica brasileira para a China, os brasileiros estão entregando o ouro ao bandido, já que a China é a principal concorrente do Brasil, mas esse é o efeito da globalização no mercado de trabalho", concluiu Fischer.

Os salários desses brasileiros que vivem na China, conhecida pelo baixíssimo custo da mão-de-obra, são mais altos do que no Brasil.

"Quase todos os que estão aqui só vieram porque não tinham oportunidades no Brasil", disse Morbach.

O brasileiro Etevaldo Zíli foi um dos pioneiros dessa nova onda migratória. Ele foi para a China em 1991.

Zíli explicou que o crescimento do setor de couros e de calçados na China coincidiu com uma redução da atividade nesses ramos no Brasil na década de 90.

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"Muitos técnicos ficaram sem emprego. Isso incentivou a imigração", disse Zíli, que voltou para o Brasil, mas continua visitando a China a trabalho.

Ele disse também que os cursos de formação de técnicos de curtume, principalmente no Sul do Brasil, são muito avançados, o que explica a procura pelos profissionais brasileiros.

Essa maior presença no mercado de trabalho está trazendo um pouco da cultura brasileira para a China.

"No sul da China, já se vê uma comunidade se formando, e novos restaurantes, por exemplo, começam a ser abertos", disse Morbach.

Fenômeno semelhante já é visto em outras cidades como Xangai que, além de churrascarias brasileiras, já tem escola de capoeira e de dança, onde se ensina o samba.

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