Crise empurra brasileiros de volta

Abonança acabou. Os anos são de tempestade outra vez. A crise econômica que começou nos Estados Unidos e virou global deve eliminar até 50 milhões de postos de trabalho mundo afora somente este ano, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em momentos assim, acaba sobrando primeiro para os imigrantes. Portas são fechadas. Quem antes era bem-vindo como mão de obra boa e (na maior parte das vezes) barata, passa a ser visto com olhos de desconfiança. Às vezes de raiva, por ocupar o lugar de um nativo. Muitos brasileiros estão voltando. Da Europa. Dos Estados Unidos. Da Ásia. O sonho ficou para trás.

Andréa Tom, estilista de 27 anos, voltou para o Recife há duas semanas. Estava estudando em Londres desde setembro. Voltou porque quis. E por causa do frio, conta. Mas trouxe na mala notícias não muito boas de lá. Na capital inglesa, Andréa morou em uma casa com mais três brasileiros que trabalhavam em hotéis (um pernambucano, um baiano e um mineiro). "Depois do réveillon, começaram a antecipar as férias do pessoal. Eles falaram que, em quatro anos, nunca tinham passado por isso. Estavam até querendo ir pra Dubai", conta. Deve ficar ainda pior. A taxa de desemprego no Reino Unido está na casa dos 6%, a mais alta da última década.

Desde janeiro, há protestos contra a contratação de imigrantes. Mês passado, milhares fizeram greve contra a contratação de italianos e portugueses para empregos temporários em uma refinaria da cidade de Lindsey. Quarta-feira passada, novos protestos. No Centro e no Sul do país. Nas mãos, os manifestantes carregavam placas dizendo "emprego no Reino Unido para trabalhadores britânicos". O governo de lá já começa a criar leis mais duras para controlar a imigração. Outros países europeus vão no mesmo caminho. A Europa é o continente com maior número de migrantes. São 70,6 milhões, segundo a Organização Internacional de Migrações (OIM).

Na Espanha, a crise levou os nativos a disputar vagas com os imigrantes - entre eles os brasileiros - na colheita anual de azeitonas no sul do país, em dezembro. Nos últimos 15 anos, esse tipo de emprego não interessava aos espanhóis. A atividade era exercida por mão de obra estrangeira. O governo espanhol chegou a fazer campanhas publicitárias pedindo para que os imigrantes não aparecessem através das vagas temporárias. O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou um relatório apontando que todos os dias pelo menos 2,5 mil trabalhadores perdem o emprego na Espanha. Mas o desemprego entre os estrangeiros é maior: 17,5% contra 11,3% (dados de novembro).

Margaret, uma gaúcha de 35 anos que mora em Frankfurt desde o início de 2008 e pediu para ter o sobrenome preservado, conta que teve um amigo que voltou para o Brasil terça-feira passada. "Ele trabalhava para uma empresa aqui e, assim que voltou de férias, foi informado que teria que voltar para o Brasil por causa da crise. Ele ocupava um cargo alto e acredito que deram preferência para os alemães", diz. De acordo com a OIM, a Alemanha é o país europeu com maior número de imigrantes. A maioria de origem turca, que começou a chegar ao país nos anos 50 para ajudar na reconstrução após a Segunda Guerra Mundial.

"Esta época de crise é certamente um período em que os nazistas vão aproveitar para ganhar força, reclamando dos estrangeiros. Mas existe muita gente, principalmente os que sofreram os horrores da guerra, que não vão deixar isso acontecer", acredita Margaret. Ela diz que não tem sentido preconceito. Mas acredita que isso é, em parte, pela aparência e pelo sobrenome (ela é loira, filha de pai inglês e neta de alemães). O primo, que é negro e mora em uma vila na região de Stuttgart, volta e meia conta que é vítima de grupos de jovens "que são muito maiores e não sabem nem o que estão dizendo".

Fonte: Diário de Pernambuco

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