Brasileiros passam fome no Japão

O país é um dos mais afetados pela crise econômica mundial, a queda nas exportações levou ao maior déficit na balança comercial desde 1980 e o novo correspondente em Tóquio, Roberto Kovalick, mostra a situação de milhares de brasileiros que estão perdendo os empregos.Durante décadas, o Japão foi a locomotiva da Ásia. Mas a crise tirou a segunda maior economia do planeta dos trilhos. O país vive em grande parte das novidades que inventa: os robôs, os carros econômicos, que fazem o futuro dar as caras por aqui mais cedo.

Mas os japoneses não têm para quem vender tantas engenhocas, já que os principais consumidores, os Estados Unidos, estão sem dinheiro para comprar.

As empresas estão poupando os japoneses do desemprego. Preferem demitir os trabalhadores temporários e os estrangeiros, o que faz dos brasileiros que vivem no país, as grandes vítimas da recessão japonesa.

O lugar nem de longe lembra a potência econômica que é o Japão. Uma pensão abandonada transformada em abrigo para desempregados brasileiros.

“Três meses. Depois que surgiu essa recessão no Japão da queda, estou desempregado até o dia de hoje”, disse Ricardo Suku.

Muitos não mostram o rosto, tem vergonha. Não querem que a família no Brasil saiba o que estão passando. Um homem conta que dormia no carro de um amigo, antes de vir para o abrigo.

“Passava dois, três dias sem comer. Aí eu batia na porta dos apartamentos onde moram os brasileiros, mas pela situação que já estava, tinha muita gente que não podia me ajudar também, então eu ficava sem comer”.

Uma família está terminando de arrumar as malas. Roupas, brinquedos, lembranças da época em que conseguiram trabalho, tudo o que conseguiram juntar em 13 anos de Japão. O casal ficou desempregado e precisou pedir ajuda para voltar ao Brasil.

O casal e os filhos vão ser repatriados pelo Ministério das Relações Exteriores porque conseguiram provar que não têm mais nada, nem Japão nem no Brasil. Eles ainda têm um problema: como determina a lei, a passagem que vão ganhar do governo brasileiro é só até São Paulo. Eles não têm dinheiro para chegar a Mato Grosso do Sul, onde mora a família, nem como recomeçar a vida.

“Nós não temos móveis, não temos dinheiro guardado. Então nós estamos indo na pura fé”, disse Fábio Yano.

Apesar disso, o pior já passou. Eles agora, ao menos, têm comida de doações para dar aos filhos. “As crianças são maravilhosas. Elas não deram um pingo de trabalho. Quando elas sabiam que não tinha nada de comer, elas não pediam comida para nós. Aí meu marido olhava, as crianças quietinhas. Não tem jeito, vamos vender as coisas. Ele saía, vendia e trazia leite, pão, arroz. E eles comiam. E falavam: “Obrigado, papai. A gente estava com fome””, contou, emocionada, Dian Yano.


Fonte: Jornal Nacional - G1 -02/09

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