Imigrantes fazem vida em cidade da Flórida parecer com a do Brasil

A rotina do diretor de rádio Raul de Barros, o Tremendão, se desenrola como se ele vivesse no Brasil. Sob um forte calor, ele acorda, fala português com todas as pessoas com quem convive, come comida típica brasileira, passeia por shoppings onde as lojas são voltadas para os imigrantes do Brasil, transmite programas de rádio que tratam de temas brasileiros e são ouvidos por seus compatriotas, e toca uma lista de canções da MPB.

“É como se estivesse na Bahia, mas com muito mais conforto de que conseguiria lá”, resume. A diferença é que Raul Tremendão dirige a Rádio Pompano Beach, na cidade que leva este mesmo nome, no estado norte-americano da Flórida.

A comunidade brasileira nos Estados Unidos é a maior fora do Brasil. Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, há no mínimo 843 mil brasileiros vivendo no país, mas este número pode chegar a 1,49 milhão de pessoas. Todos os dias, a rádio transmite pela internet um conteúdo voltado à comunidade de brasileiros no país, especialmente naquele estado do sul. “Somente aqui na Flórida há uns 200 mil brasileiros”, contou Tremendão, em entrevista ao G1.

O diretor da rádio, que tem este apelido por ter tocado na banda que acompanhava Erasmo Carlos, o "Tremendão" da Jovem Guarda, conta que deixou Vitória (ES) e se mudou para os Estados Unidos há 15 anos, por medo da violência. Até pouco mais de um ano atrás, ele morava na cidade de Sarasota, também na Flórida, mas se mudou para Pompano Beach para montar a rádio na região com maior comunidade de imigrantes. “Precisava estar perto deste público”, disse. Segundo ele, entretanto, o perfil de rádio imigrante acaba atraindo audiência de outras partes do mundo. “Já temos ouvintes brasileiros em diferentes países. Recebemos mensagens de pessoas do Japão, da Espanha, da Alemanha.”

Depois de um ano no ar, o diretor diz que a rádio já conta com uma audiência média de quase 2.000 pessoas a cada hora. “Cerca de 95% da nossa programação é composta de MPB, mas também tocamos músicas da Jovem Guarda, tocamos pagode, sertanejo, tudo o que é pedido pelo público”, contou, completando que também há programas sobre sexo, comportamento e notícias. No site da rádio, há até convites para que mais pessoas participem da programação ou até apresentem novos programas.


Pedaço de Brasil nos EUA

Em Pompano Beach, ele conta, é possível viver se relacionando apenas com brasileiros, se o imigrante não quiser se integrar com os norte-americanos. “Dá para morar aqui nos Estados Unidos e só falar com brasileiros, ir a lojas brasileiras e passear no shopping que chamamos de Mall do Arroz com Feijão.” A maioria dos imigrantes na cidade, segundo Tremendão, é de pessoas que trabalham na construção civil, misturando imigrantes que estão no país de forma legal e ilegal. Os que estão em situação irregular, diz ele, sofrem com a repressão da polícia e acabam dificultando a vida até para os que estão em situação legal.

Depois da desvalorização internacional do dólar e de a crise financeira ter atingido os Estados Unidos, muitos desses brasileiros que tinham ido ao país em busca de melhores oportunidades acabaram voltando para o país de origem. “Mas tem gente que volta para casa e não se acostuma mais com o Brasil. Já vemos que tem gente que tinha desistido de viver aqui, mas que volta agora para tentar reconstruir a vida nos Estados Unidos”, disse.

O próprio Tremendão se inclui entre os que se sentem em casa e não chegam a sofrer por saudade do Brasil. “Aqui a gente acha de tudo o que podia querer do Brasil”, disse. “As coisas deram muito certo na minha vinda, fizemos todos os trâmites legais, já tenho dupla cidadania, a rádio está crescendo, e não vejo motivo para querer voltar.”

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