O desprezo do governo brasileiros pelos brasileiros na Bolívia.

Recentemente temos visto reações enérgicas por parte do governo brasileiro quando se tem notícia que um brasileiro foi desrespeitado em países europeus, levando inclusive algumas vezes a fiascos vexaminosos, como no caso da brasileira Paula Oliveira, que devido a problemas psicológicos alegados por ela mesma, auto-mutilou-se e acusou skinheads, levando o governo brasileiro, num arroubo de irresponsabilidade, a ameaçar levar a Suiça à ONU e acusá-la por violações dos direitos humanos.

Apesar do retrospecto não tão favorável, ao menos pode-se pensar que o governo brasileiro prefere pecar pelo excesso do que pela omissão. Porém, um episódio corrente na Bolívia, sobre o qual o governo brasileiro cala-se sepulcralmente, mostra que talvez, por trás de toda a bravura em defender os brasileiros no exterior esteja muito mais um rancor típico terceiro-mundista contra países ricos que o bem estar do cidadão brasileiro no exterior.

No episódio citado acima, que tem descrição detalhada no Blog da Amazônia, podemos conhecer detalhadamente o problema: centenas de famílias brasileiras, em sua imensa maioria pobres e com pequenas propriedades, alguns vivendo há quase 50 anos na Bolívia, estão tendo suas propriedades confiscadas pelo governo boliviano, sem direito a indenização, e nas suas propriedade estão sendo instaladas famílias bolivianas. Segundo fontes da imprensa boliviana e da oposição, Evo Morales está fazendo isso para fortalecer sua força política na província de Pando, onde a oposição é mais popular. O que o governo brasileiro tem a dizer sobre uma atrocidade como essa, cometida contra milhares de brasileiros trabalhadores e que inclusive ajudam a fazer uma Bolívia melhor ? Retoricamente nada, já que ainda não vi um representante do governo Lula na TV esbravejando contra isso. Já na prática, o governo brasileiro deu mais de 30 milhões de dólares para ajudar na expulsão dos brasileiros e somente isso, já que as famílias não serão indenizadas pelo governo boliviano pelas propriedades confiscadas.

A justificativa do governo da Bolívia é que esses agricultores, por estarem instalados em área de fronteira, representam risco a segurança nacional boliviana, uma versão extremamente inverosímel, dada a condição social dos expulsos, meros agricultores paupérrimos.

A expulsão arbitrária de brasileiros inclusive tem comovido policiais federais que trabalham na fronteira, já que a "primeira leva" de expulsos são justamente os agricultores mais pobres, quem não estão tendo nem o direito de recolher todos os seus bens antes de serem expulsos por agentes do governo boliviano.

O seringueiro Djalma Soares, 55 anos de idade, 46 deles vividos na Bolívia e pai de seis filhos, relata sua experiência: 
- Os funcionários do governo boliviano disseram que iriam subir o rio e na volta não queriam mais me encontrar na minha colocação. Eu falei: tudo bem, eu volto pro meu Brasil. Trouxe uma rede, um lençol e três panelas. O resto ficou tudo: bacia, machado, terçado, cabrita e outros instrumentos de trabalho. Lá eu dava meu jeito de sobreviver. Não sei como será minha vida aqui na cidade, sem emprego - relatado ao Blog da Amazônia.

Djalma Soares e sua família retornando ao Brasil depois de serem expulsos sumariamente. Segundo o governo boliviano ele representa perigo à segurança nacional boliviana.


Outro agricultor brasileiro, que ainda resiste, Waldemar Gomes, há 47 anos na Bolívia, fala de sua indignação com o governo brasileiro e da tensão que a situação está criando na região, podendo inclusive culminar em violência e num banho de sangue. (via blog da Amazônia)

- O que o senhor acha do acordo (sobre os milhões de dólares dados ao governo brasileiro ao governo boliviano) dos presidentes Lula e Evo Morales?

- Está errado demais. O Lula deveria ter dado dinheiro pra indenizar a gente. Se os bolivianos chegassem e perguntassem quanto custa a minha propriedade, eu diria que vale R$ 30 mil. Se eles me oferecessem a metade do valor eu aceitaria sair numa boa. Agora sair de mãos abanando de jeito nenhum. Isso não é justo.

- O que fazer então?

A Bolívia não vai ficar com isso de graça, não. Tem muito brasileiro revoltado com essa situação. Eu não vou deixar nada lá. Eu não quero ir para um lugar qualquer que eles vão oferecer. Eu prefiro tocar fogo na minha casa. Toco fogo em tudo e venho embora pra recomeçar a vida.


Foto do senhor Waldemar Gomes, que depois de 47 anos de trabalho na Bolívia, será expulso sem direito a indenização.


O mais grave nessa situação é que apesar de certos esforços políticos no Brasil contra esse abuso contra brasileiros, não há uma palavra de uma alta autoridade brasileira em favor desses cidadãos brasileiros. Celso Amorim, nosso ministro de relações exteriores, ocupa-se em agendar a visita de um negador do Holocausto e coordenador de um massacre recente nas ruas do Irã, o senhor Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil. Lula vive afagando ditadores sanguinários africanos em conferências na África. Enquanto isso, cidadãos brasileiros, vítimas de uma perseguição fascista na Bolívia, são ignorados pelo governo brasileiro.

Esse é um quadro preocupante para nós estudantes de LEA, já que provavelmente seremos profissionais que viajaremos - ou até imigraremos - para outros países, e a perspectiva que dependendo do governo no Brasil ele pode nos abandonar por causa de alinhamentos ideológicos é, no mínimo, sombria.

2 comentários:

Yves Berbert disse...

Lembro de termos conversado sobre o assunto dia desses Bruno, é sim muito preocupante o descaso do governo em relação ao que estão fazendo os bolivianos. Espero que a mídia divulgue isso, para que tenhamos uma resposta, ou melhor, uma justificativa para tal inoperância.

Clodoaldo Silva da Anunciação disse...

É isso mesmo. Razões ideológicas e por serem pessoas de baixa renda podem estar levando a esse silêncio perturbador.

Postar um comentário

 
©2009 Sotaque Brasil | by TNB