Entrevista - Phillipe Cupertino

Esta semana fiz a entrevista com um aluno do curso de Direito da UESC, Phillipe Cupertino, que morou no exterior, mais especificamente na Irlanda.

Sébastien diz:

O que te levou a escolher a Irlanda?

Cuper diz:

A possibilidade de poder estudar e trabalhar. Eu gostaria de morar num lugar no qual pudesse me bancar também. Além do mais, minha irmã mais velha estava morando em Dublin, e foi mais uma oportunidade de morar fora do país.

Primeiramente eu iria ao Canadá, mas os pacotes de intercâmbio eram infinitamente mais caros e eu não poderia trabalhar.

Sébastien diz:

E quais foram as desvantagens de ter escolhido um país não muito comum na rota dos intercambistas?

Cuper diz:

A desvantagem? Acredito ser o inglês falado na Irlanda. Eles possuem um sotaque muito forte e difícil de ser compreendido inicialmente, mesmo para aqueles que já dominam a língua inglesa. Porém, não necessariamente por ser uma rota incomum entre os intercambistas, seja desvantajoso morar lá. Ultimamente a Irlanda tem atraído muitos brasileiros.

Sébastien diz:

O Reino Unido é famoso por ter grupos minoritários agressivos, como os hooligans e os skinheads. Você teve algum contato com esses grupos? Sofreu algum tipo de preconceito ou retaliação por ser descendente de Libaneses?

Cuper diz:

Na Irlanda havia um grupo de jovens que costumava atacar imigrantes verbalmente ou até mesmo fisicamente. Eles eram chamados de “Nakers”, Geralmente vestiam moletons da Nike ou Adidas, e percorriam o centro da cidade chutando, empurrando pessoas que eles sabiam que não pertenciam a Irlanda. Eu ouvi lamentáveis relatos de pessoas que sofreram sérias lesões corporais, causadas por agressões deste grupo.

Certa vez estava voltando da escola, quando um grupo de Nakers me passou uma rasteira e me ofendeu com palavras agressivas.

Não sofri nenhum tipo de preconceito por ser descendente de libaneses, principalmente por não ter atributos físicos determinantes do povo libanês.

Sébastien diz:

Vamos falar sobre trabalho. E então, foi fácil conseguir emprego?

Cuper diz:

Não achei muito difícil porque eu procurei em lugares mais afastados do centro, que são menos requisitados. Cheguei a ficar na verdade quase dois meses em busca de emprego, é a média da maioria das pessoas que conheci. Conheci muitos brasileiros que tiveram que voltar por não ter achado emprego ou porque foram enganados por agências de intercâmbio que garantiram trabalho. O fundamental para conseguir emprego é não ter “frescura” em relação ao tipo de serviço e principalmente dominar um pouco a língua, para não ter problemas na entrevista.

Sébastien diz:

Os patrões tratam bem os brasileiros? Existe algum tipo de diferenciação em relação aos nativos?

Cuper diz:

A diferenciação é facilmente notada, Os irlandeses com certeza tinham um tratamento melhor e possuíam melhores salários mesmo exercendo a mesma profissão.

No meu primeiro trabalho, no qual fiquei apenas duas semanas, fui explorado pelos meus patrões, assim como outros imigrantes que trabalharam lá. Eles pagavam metade do salário mínimo e ainda queriam que eu faltasse à escola para trabalhar. Contudo nos demais empregos que consegui, tive uma boa relação com meus patrões.

Sébastien diz:

Conversando previamente, descobri que sua viagem teve três focos: estudo, trabalho e também turismo. Para finalizar, nos conte um pouco sobre sua Euro Tour!

Cuper diz:

Eu morei nove meses na Irlanda, e passei um mês viajando pela Europa e Oriente Médio. Foi uma experiência única poder conhecer vários países com tanta facilidade e sozinho, com apenas uma mochila nas costas. Por todos os lugares que passei, pude conhecer não apenas os pontos turísticos, mas o povo. Meu objetivo de trabalhar, além de ajudar a pagar minhas contas, era poder juntar dinheiro para a minha eurotrip.

Na maioria dos lugares em que passei encontrei brasileiros trabalhando, estudando, ou fazendo turismo. Era incrível que muitas vezes estava no metrô, ou no ponto de ônibus, e sempre encontrava um brasileiro no meio da multidão. Infelizmente, muitos brasileiros tentam ganhar a vida fora de seu país. Muitos destes, até mesmo com nível superior, exercem cargos como garçom, camareira, faxineira.

Eu conheci a Inglaterra (Londres), Espanha (Barcelona), Áustria (Viena), República Tcheca (Praga), Eslováquia (Brastilava), Hungria (Budapeste), Líbano (Beirute e quase todas as principais cidades), Itália (Veneza, Roma, Nápoles, Pompéia e Vaticano) e França (Paris).

Destes, o Líbano foi o lugar que mais me senti a vontade e que acredito que o brasileiro, de modo geral, possui uma das melhores imagens.

A Itália foi o país no qual senti um pouco de preconceito em relação ao nosso povo, principalmente as mulheres, que são taxadas de prostituta. Também foi o único país onde revistaram minha mochila para verificar se haviam drogas.

A Espanha foi o país onde mais encontrei brasileiros, e passei pela imigração mais desagradável. Tive que responder um monte de perguntas insignificantes mesmo eles sabendo que eu tinha visto para circular por toda Europa.

Sébastien diz:

Ok! Muito obrigado pela entrevista!

1 comentários:

Clodoaldo Silva da Anunciação disse...

Parabéns ao Sebastien e ao grupo pela excelente entrevista.

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